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  • Foto do escritorFernanda Bahia

Sobre cobrir surf feminino no meio de tanto masculino

Quando eu criei o ManaSurf, há mais de um ano, quando ele ainda vivia no mundo das ideias, eu tinha uma hipótese. E o Mana seria a maneira de confirmar, ou refutar, a minha hipótese. Mas, vamos por partes.

Ao pesquisar "surfe" no Google, nenhuma mulher nos resultados
Ao pesquisar "surfe" no Google, nenhuma mulher nos resultados

Primeiro: de onde veio a minha hipótese? Observando a mídia esportiva, a mídia do surf, as contas de Instagram, revistas, sites, canais do Youtube, aos poucos, eu fui entendendo o papel da mulher ali. Ou, pelo menos, o papel que a mídia masculina achava que deveria ser o papel da mulher. E a maneira como todo o resto do universo do surf responde e se acomoda a esse papel.


Explico: a mulher surfista, para a mídia, é na verdade uma modelo, e não uma atleta. Já o homem surfista deve ser primeiro um atleta. E isso gera um ciclo: os patrocinadores, apoiadores, marcas de surf, competições, lembram apenas da surfista modelo. Esquecem da surfista atleta. E o espaço dessas surfistas fica escasso. A visibilidade para elas fica menor. Tudo, para elas, é menos. E aí, a mídia olha menos para elas. Enfim, um ciclo.

Carissa Moore
Carissa Moore, tetracampeã mundial

Ok, mas e a minha hipótese? Partia do pressuposto de que informação é poder. É isso que a gente aprende no jornalismo. E quem tem informação é a mídia. Logo, ela tem poder. A minha hipótese era: se a mídia abre mais espaço para a mulher surfista, as marcas, o público, os campeonatos, vão olhar mais para ela. E o ciclo muda. Ótimo. Mas, será mesmo?


E lá fui eu pesquisar, para descobrir se sim, ou se não. O ManaSurf virou meu trabalho de conclusão de curso, em Jornalismo na UFRJ. E eu precisei provar, com as minhas pesquisas, que seria algo necessário. E que o meu site seria diferente do que já existia de surf feminino pela internet.


Minhas pesquisas consistiram, basicamente, em entender como a mídia especializada já falava do surf feminino. E prometer fazer melhor. E foi no meio dessas pesquisas que eu entendi que fazer melhor não seria tão difícil. Que a mídia estava errando muito. Que o papel da surfista modelo, até ontem, até hoje, ainda prevalecia sobre a surfista atleta.


Não só da surfista modelo, mas da surfista objeto, sensualizada. Me deparei com alguns sites de surf que ainda tinham a sessão "gatinhas". Com fotos sensuais de mulheres de biquíni abraçadas em uma prancha. Coisa que, na década de 80, existia nas páginas de revista. Constatei o quanto o surf é um esporte machista. Mais do que eu imaginava.

Anúncio da WSL do "Equal Pay"
Anúncio da WSL do "Equal Pay"

Mais do que nunca percebi o quanto o ManaSurf era necessário. E é. Porque "surf", para a mídia especializada, é surf masculino. E o surf feminino precisa ser especificado. Depois de um ano de ManaSurf, eu, a Bruna e a Rai confirmamos a hipótese. Não só pelo site, mas por todo o movimento que temos visto partir do surf feminino. Por estarmos vendo a visibilidade aumentar, a equidade chegar aos poucos e o surf conquistar cada vez mais espaço.



O cenário vem mudando. E dá um orgulho imenso fazer parte disso. E saber que não estou sozinha. Eu, a Bru e a Rai sobrevivemos a esse ano inteiro e fizemos exatamente o que prometemos que faríamos: cobrir surf feminino melhor do que a mídia especializada já cobria.

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